Desempenho da indústria e transporte marítimo cresceram em 2020

    O ano de 2020 foi totalmente atípico e o mercado global passou por momentos totalmente distintos. Verificou-se uma freada muito forte na demanda em nível mundial no final do primeiro e início do segundo trimestres, seguida da grande necessidade de reposição dos estoques no segundo semestre e, por fim, a necessidade de formação de estoques para o Natal. Aliado a isso, estímulos fiscais de governos em todo o mundo e mudanças nos hábitos de consumo minimizaram os impactos da pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Embora tenha-se registrado retração nos setores de serviços, a demanda por fretes explodiu e deve seguir em alta.

    Mesmo diante deste cenário de incertezas, representantes da indústria e serviços nos setores portuário e da navegação comemoram bons resultados neste ano e estão otimistas com relação ao ano que vem. No entanto, “esse positivismo está atrelado a uma série de incógnitas. Entre elas estão a extensão da segunda onda da pandemia, a eficiência das vacinas que estão surgindo em vários continentes e o resultado das eleições nos Estados Unidos”, diz o consultor Solve Shipping Inteligence Specialists e especialista em Economia Internacional e Inteligência Competitiva Leandro Carelli Barreto.

    Tais questionamentos que estão intimamente ligados ao comércio exterior e foram debatidos em painel durante a Logistique Web Conference, durante a edição deste ano da Logistique – Feira e Congresso de Logística e Negócios Multimodais, realizada de 4 a 6 de novembro, no formato digital. O debate reuniu as maiores companhias de navegação e portos, com a abordagem de temas voltados à navegação de longo curso, cabotagem e frete. As discussões na íntegra podem ser conferidas no canal da Logistique no YouTube, link: https://www.youtube.com/watch?v=kqG5YSXTk8Y&t=1536s.

    Indústria otimista

    “Este ano está sendo totalmente atípico e os mercados importadores da indústria brasileira pararam em momentos distintos, o que permitiu certo equilíbrio. Por outro lado, as importações, principalmente de maquinário e insumos, ficou prejudicada e acabou impactando a produção nacional”, diz o gerente de Comércio Exterior da Berneck SA, Daniel Kokot. A empresa atua no segmento madeireiro, tem diversas plantas fabris nos estados do Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso e grande participação nas exportações do setor.

    Para o ano que vem as expectativas são otimistas. Segundo o executivo, o bom desempenho que o setor vem registrando no último trimestre de 2020 deve se repetir no próximo ano. “O mercado global está aquecido e as exportações devem continuar crescendo”, diz Kokot. Ele acrescenta que o setor madeireiro é pujante, vem aumentando sua participação no mercado internacional ano após ano e o executivo acredita que a realidade de 2021 não será diferente.

    O diretor de logística global da BRF Alimentos, José Perottoni, diz que neste ano a indústria alimentícia manteve suas vendas nos mercados interno e externo, apesar de ter sentido uma maior retração, principalmente no início da pandemia. “No entanto, o câmbio e a peste suína africana favoreceram as exportações brasileiras, principalmente para a China e Hong Kong”, diz Perottoni, com mais de 30 anos de atuação na BRF, que é em uma das maiores empresa do segmento de alimentos do planeta.

    Perottoni estima para este ano um avanço ente 2% e 5% nas exportações das cargas reefer [proteína animal e frutas] e prevê um crescimento ainda maior em 2021. “O novo normal também criou um movimento bem mais forte na cabotagem do Sul para o Nordeste e para o Norte, que deve se intensificar ainda mais.”

    Navegação

    No setor de navegação de longo curso, segundo Barreto, lockdown nos portos asiáticos e depois europeus no início da pandemia acabaram impactando na falta de contêineres no mercado e também no represamento de algumas cargas nos portos de origem. No entanto, essa realidade mudou já no segundo trimestre deste ano.

    Julian Thomas, presidente do Grupo Maersk para o Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, além de impactar nas importações brasileiras, o represamento das cargas nos portos asiáticos e europeus gerou um efeito dominó que impactou também nas exportações brasileiras. Thomas diz que o problema inicial foi sanado logo no início. No entanto, com o aumento geral nas operações no mundo, a logística dos contêineres voltou a apresentar problemas e o temor pela falta de contêineres volta a assombrar o mercado.

    Esse cenário cria uma expectativa mais conservadora para a Maersk com relação ao desempenho global em 2021. “A movimentação caiu 16% no mundo segundo trimestre, ante uma projeção inicial de 25%, ficou em 3% no terceiro trimestre e deve se igualar ao igual período do ano passado nos três últimos meses do ano, permanecendo nesse patamar no ano que vem.”

    Para a navegação de cabotagem Thomas diz que as operações alavancaram apenas depois de agosto, mas com desaquecimento a partir de novembro. Para o ano que vem a Maersk [que engloba os armadores Hamburg Süd e Aliança Navegação e Logística] projeta um crescimento de 7%.

    Crescimento expressivo

    Os portos do Sul do Brasil também tiveram um ano atípico e devem fechar 2020 com avanços expressivos. O Porto Itapoá [maior terminal de uso privado (TUP) em operação em Santa Catarina e segundo TUP no ranking de 2019 da Agência Nacional dos Transportes Aquaviários (Antaq)] operou dentro da projeção no início do ano e registrou avanço expressivo a partir do segundo semestre, principalmente nas importações. Cássio Schreiner, presidente do Terminal, acredita que o índice de crescimento neste ano deve novamente ficar dois dígitos.

    Para 2021 as projeções são conservadoras. “Devemos ter um crescimento moderado, pois o desempenho dos portos brasileiros está muito atrelado a realidade brasileira. Precisamos de reformas tributária e fiscal e o desempenho da economia e, consequentemente o crescimento do comércio internacional e dos portos, estarão vinculados à condução destas reformas pelo governo federal.”

    O presidente dos Portos do Paraná, Luiz Fernando Garcia da Silva, está extremamente otimista com relação ao desempenho do Porto Público de Paranaguá e de demais terminais que compõem o complexo portuário paranaense em 2020. Seu positivismo é justificado pelos números registrados até outubro, que superam a movimentação global do ano passado. O crescimento foi alavancado pelas exportações de grãos, que respondem por cerca de 65% das operações, e importações de fertilizantes. “Tivemos uma safra excepcional neste ano, o que alavancou nosso crescimento”, diz Garcia. Ele não faz projeções para o ano que vem.

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